Texto organizado
por Danilo Siqueira[1]
a partir dos questionamentos e das respostas apresentadas pelos jovens educandos
da CFR-LG sobre o PPJ.
O Projeto Profissional do Jovem (PPJ) é uma das
ferramentas utilizadas pelas Casas Familiares Rurais para estimular e avaliar o
aprendizado dos jovens, especialmente no aspecto da aplicabilidade da formação
técnica recebida. Ele constitui-se como um plano de trabalho, devidamente
elaborado, e com foco específico para a produção. Em linhas gerais, o PPJ
apresenta uma atividade produtiva que será assumida pelo jovem e sua família
para atender aspectos importantes: a produção de alimentos para o consumo da
família e a geração de renda através da venda do excedente.
Entende-se como projeto PROFISSIONAL porque habilita
o jovem ao trabalho profissional na área de desenvolvimento daquela experiência,
já que os conhecimentos técnicos são aprimorados em função do manejo do
empreendimento. Por exemplo, se o projeto está direcionado para a avicultura,
toda a orientação técnica é direcionada para habilitar o jovem a saber manejar
as aves e, além disso, estimulá-lo a buscar alternativas de ampliação da
produção, seu beneficiamento e sua comercialização.
O PPJ também é conhecido como Projeto de Vida, uma
vez que está intimamente ligado à necessidade da família e direciona a
intervenção e atuação do jovem em função das suas perspectivas de vida futura.
Quando o jovem projeta o seu futuro e se imagina como alguém realizado, com
melhores condições de vida, ele passa a traçar planos e metas de como alcançar
esse futuro. Isso se traduz no PROJETO que, ao ser registrado, é entendido como
o PLANO DE TRABALHO para o seu empreendimento.
O primeiro passo para a elaboração do PPJ é fazer um
levantamento detalhado das necessidades da família e das possibilidades
(vantagens) que a sua propriedade oferece. Essa etapa é chamada de diagnóstico.
De posse das informações, chega-se a decisão sobre o possível empreendimento a
ser desenvolvido. Tomada a decisão, inicia-se uma segunda etapa chamada de
análise de viabilidade que, na prática, é uma análise real das condições que se
tem e se o empreendimento proposto terá sucesso. Isso inclui, inclusive, a
análise de mercado para onde será comercializado o excedente, já que se propõe
– também – a geração de renda para a família. Se definido como viável o
empreendimento, inicia-se a elaboração do Plano de Implementação: aqui se faz o
inventário da área, destacando-se o que já se tem na propriedade; define-se o
local para a instalação do empreendimento; e se faz todo o levantamento de
material e mão de obra necessária para a sua consecução.
Para a devida estruturação do Projeto (para isso é
necessário um documento escrito), deve-se definir: o nome do projeto, sua
localização, uma apresentação sobre ele (em breve explanação), a razão pela
qual se fez aquela opção – isso é a JUSTIFICATIVA do projeto, seus objetivos e
metas, a forma como o projeto será desenvolvido – isso se chama METODOLOGIA, um
cronograma de execução das ações e o seu orçamento detalhado. Com o projeto
devidamente estruturado, o jovem passa a ter um plano organizado de trabalho e
direciona suas ações para adquirir o necessário ao sucesso do seu
empreendimento.
O PPJ é importante para
a formação do jovem na CFR por dois motivos: primeiro por revelar a aplicação
do conhecimento técnico adquirido durante as formações e, segundo, por orientar
a intervenção técnica e a habilitação do jovem para uma atividade produtiva
dentro da área de formação que é a AGROPECUÁRIA.
Ter um projeto devidamente estruturado dentro da
propriedade é uma vantagem significativa para o produtor. Primeiro por
demonstrar que seu trabalho é organizado e que suas ações são direcionadas para
um fim maior (tem objetivos e metas claras de trabalho) e, segundo, porque lhe
permite trabalhar com as mais variadas possibilidades de sucesso em seu
empreendimento. O PPJ vai permitir uma análise mais detalhada do que se tem e
do que se pode realizar na propriedade; da mesma forma, pode orientar a
organização e implementação de outras experiências produtivas para produção de
alimentos e para geração de renda para a família.
Na proposta de formação das CFRs, o PPJ tem duas
grandes finalidades: a primeira é orientar a organização e desenvolvimento de
empreendimentos produtivos para o jovem e sua família e, por vezes, esses
projetos podem – inclusive – ser apresentados para financiamentos junto a
bancos e/ou apoiadores de pequenos projetos; a segunda, ele orienta o
desenvolvimento de pesquisa científica na área do empreendimento e, assim
sendo, serve para orientar o trabalho e conclusão de curso que os jovens das
CFRs precisam apresentar para receber sua certificação. Para esta última
finalidade, o jovem definirá um tema de pesquisa a partir do seu empreendimento
produtivo e realizará uma pesquisa, com orientação técnica de um profissional,
devendo – até o final do curso – apresentar seus resultados a uma Banca
avaliadora que decidirá sobre a sua certificação profissional.
O PPJ também é um instrumento de gestão da
propriedade e, por isso, importante para a administração dos recursos e das
experiências que ali se tem ou se desenvolve. Por estar diretamente vinculado a
um empreendimento, ou melhor, por orientar a implementação do empreendimento, o
PPJ será a base para a análise de resultados do trabalho desenvolvido na
propriedade. Se nele estão apresentados todos os procedimentos necessários ao
sucesso do empreendimento, é a partir dele que serão feitas as análises de
resultados e as avaliações de progresso, seja na formação profissional do jovem
(a sua habilitação técnica), seja no alcance e realização das metas e dos
objetivos a que ele se destina (produção e comercialização). Assumindo como
ferramenta de gestão, o PPJ irá exigir do jovem: atualização do inventário da
propriedade; análise constante de mercado (novas perspectivas de venda, novos
mercados, formas de apresentação do seu produto, etc.); controle de estoque, de
produção e/ou de venda; controle de entrada e saída de recursos; etc. Para o
manejo da experiência, há de se considerar aquelas que primem pela melhor
qualidade do produto, sua conservação e logística de escoamento até o mercado
final.
Como já mencionado anteriormente, o PPJ deverá
atender tanto a produção de alimentos quanto a geração de renda para suprir as
necessidades do jovem e sua família. A manutenção do PPJ na propriedade
dependerá da sua disponibilidade de tempo (e de sua família), dos seus
conhecimentos técnicos para o manejo e dos mercados com os quais irá trabalhar.
Em meio a tudo isso, há necessidade de investimentos financeiros, sejam eles
próprios do jovem ou da família, sejam eles oriundos de financiamentos e/ou de
patrocínio. Planejar a captação e a utilização dos recursos financeiros é
importante para garantir a continuidade do empreendimento e, principalmente,
para garantir o retorno econômico para a família.
Todo esse trabalho é tarefa da administração que, no
caso específico do Projeto Profissional é uma responsabilidade do próprio jovem
e de sua família. A função de gestão, desempenhada pelo jovem, é iniciada com a
elaboração do projeto e se segue com a implementação das ações. Dominar
técnicas de gestão de empreendimentos produtivos é importante para que o jovem
e sua família realizem todas as etapas do processo de produção, beneficiamento
e comercialização de seus produtos. Técnicas de controle de qualidade, controle
de produção, estoque e comercialização devem ser definidas para o sucesso do
empreendimento. Quais os instrumentos que podem ser utilizados para isso? –
Inicialmente, o caderno da realidade. Nele se fará todo o registro da
implantação do empreendimento e suas etapas consecutivas. Para as demais
etapas, um livro de controle de produção, estoque e comercialização, de
entradas e saídas já é um passo significativo no processo de gestão.
Realizar o PPJ, para o jovem e sua família, é um
desafio. Primeiro, pelo fato de propor uma nova rotina para a vida do jovem e
sua família, com a definição do empreendimento e com o detalhamento do seu
processo de implantação com a elaboração do projeto. Segundo, a instalação das
unidades produtivas ou das experiências de geração de renda exigirão tempo
organizado, disponibilidade de recursos e mão de obra, conhecimentos técnicos,
habilidades e expertises[2]
frente ao mercado, frente aos concorrentes. Aqui o desafio posto é que o jovem
se torne empreendedor.
No caso específico da CFR, esse processo de
estruturação do PPJ e sua implementação são contados como carga horária de
estágio, já que o jovem está sendo capacitado para duas áreas importantes: a
elaboração de projetos produtivos e a implementação de uma experiência
produtiva que carece de intervenção técnica, de pesquisa, de aplicação de
conhecimentos. Para o registro e acompanhamento dessa carga horária, o jovem
utiliza o seu caderno da realidade – onde fará as anotações dos procedimentos
utilizados no manejo do empreendimento, as dificuldades, os problemas surgidos,
a necessidade da orientação técnica ou os avanços e os resultados que vão sendo
alcançados periodicamente. Deve-se registrar o tempo utilizado nessas ações.
Outra forma de registro se dá através dos relatórios das visitas técnicas e/ou
da intervenção técnica direcionada ao empreendimento. Aqui se terá a
colaboração dos monitores e, principalmente, a validação por parte de um técnico
que domine os conhecimentos sobre aquela experiência.
[1] Pedagogo, especialista em
gestão escolar – Diretor da CFR-LG e coordenador de projetos no Centro de Apoio
a Projetos de Ação Comunitária – CEAPAC.
[2] Capacidade de iniciativa, conhecimentos
técnicos e habilidades na área de empreendimentos, mercado, marketing. Conjunto
de habilidades que permite competir com outros fornecedores no mercado,
inovando e ganhando a simpatia dos consumidores. Saber encontrar brechas,
oportunidades.