quarta-feira, 31 de julho de 2013

O PROJETO PROFISSIONAL DO JOVEM (PPJ) DE UMA CFR.

Texto organizado por Danilo Siqueira[1] a partir dos questionamentos e das respostas apresentadas pelos jovens educandos da CFR-LG sobre o PPJ.


O Projeto Profissional do Jovem (PPJ) é uma das ferramentas utilizadas pelas Casas Familiares Rurais para estimular e avaliar o aprendizado dos jovens, especialmente no aspecto da aplicabilidade da formação técnica recebida. Ele constitui-se como um plano de trabalho, devidamente elaborado, e com foco específico para a produção. Em linhas gerais, o PPJ apresenta uma atividade produtiva que será assumida pelo jovem e sua família para atender aspectos importantes: a produção de alimentos para o consumo da família e a geração de renda através da venda do excedente.
Entende-se como projeto PROFISSIONAL porque habilita o jovem ao trabalho profissional na área de desenvolvimento daquela experiência, já que os conhecimentos técnicos são aprimorados em função do manejo do empreendimento. Por exemplo, se o projeto está direcionado para a avicultura, toda a orientação técnica é direcionada para habilitar o jovem a saber manejar as aves e, além disso, estimulá-lo a buscar alternativas de ampliação da produção, seu beneficiamento e sua comercialização.
O PPJ também é conhecido como Projeto de Vida, uma vez que está intimamente ligado à necessidade da família e direciona a intervenção e atuação do jovem em função das suas perspectivas de vida futura. Quando o jovem projeta o seu futuro e se imagina como alguém realizado, com melhores condições de vida, ele passa a traçar planos e metas de como alcançar esse futuro. Isso se traduz no PROJETO que, ao ser registrado, é entendido como o PLANO DE TRABALHO para o seu empreendimento.
O primeiro passo para a elaboração do PPJ é fazer um levantamento detalhado das necessidades da família e das possibilidades (vantagens) que a sua propriedade oferece. Essa etapa é chamada de diagnóstico. De posse das informações, chega-se a decisão sobre o possível empreendimento a ser desenvolvido. Tomada a decisão, inicia-se uma segunda etapa chamada de análise de viabilidade que, na prática, é uma análise real das condições que se tem e se o empreendimento proposto terá sucesso. Isso inclui, inclusive, a análise de mercado para onde será comercializado o excedente, já que se propõe – também – a geração de renda para a família. Se definido como viável o empreendimento, inicia-se a elaboração do Plano de Implementação: aqui se faz o inventário da área, destacando-se o que já se tem na propriedade; define-se o local para a instalação do empreendimento; e se faz todo o levantamento de material e mão de obra necessária para a sua consecução.
Para a devida estruturação do Projeto (para isso é necessário um documento escrito), deve-se definir: o nome do projeto, sua localização, uma apresentação sobre ele (em breve explanação), a razão pela qual se fez aquela opção – isso é a JUSTIFICATIVA do projeto, seus objetivos e metas, a forma como o projeto será desenvolvido – isso se chama METODOLOGIA, um cronograma de execução das ações e o seu orçamento detalhado. Com o projeto devidamente estruturado, o jovem passa a ter um plano organizado de trabalho e direciona suas ações para adquirir o necessário ao sucesso do seu empreendimento.
O PPJ é importante para a formação do jovem na CFR por dois motivos: primeiro por revelar a aplicação do conhecimento técnico adquirido durante as formações e, segundo, por orientar a intervenção técnica e a habilitação do jovem para uma atividade produtiva dentro da área de formação que é a AGROPECUÁRIA.
Ter um projeto devidamente estruturado dentro da propriedade é uma vantagem significativa para o produtor. Primeiro por demonstrar que seu trabalho é organizado e que suas ações são direcionadas para um fim maior (tem objetivos e metas claras de trabalho) e, segundo, porque lhe permite trabalhar com as mais variadas possibilidades de sucesso em seu empreendimento. O PPJ vai permitir uma análise mais detalhada do que se tem e do que se pode realizar na propriedade; da mesma forma, pode orientar a organização e implementação de outras experiências produtivas para produção de alimentos e para geração de renda para a família.
Na proposta de formação das CFRs, o PPJ tem duas grandes finalidades: a primeira é orientar a organização e desenvolvimento de empreendimentos produtivos para o jovem e sua família e, por vezes, esses projetos podem – inclusive – ser apresentados para financiamentos junto a bancos e/ou apoiadores de pequenos projetos; a segunda, ele orienta o desenvolvimento de pesquisa científica na área do empreendimento e, assim sendo, serve para orientar o trabalho e conclusão de curso que os jovens das CFRs precisam apresentar para receber sua certificação. Para esta última finalidade, o jovem definirá um tema de pesquisa a partir do seu empreendimento produtivo e realizará uma pesquisa, com orientação técnica de um profissional, devendo – até o final do curso – apresentar seus resultados a uma Banca avaliadora que decidirá sobre a sua certificação profissional.
O PPJ também é um instrumento de gestão da propriedade e, por isso, importante para a administração dos recursos e das experiências que ali se tem ou se desenvolve. Por estar diretamente vinculado a um empreendimento, ou melhor, por orientar a implementação do empreendimento, o PPJ será a base para a análise de resultados do trabalho desenvolvido na propriedade. Se nele estão apresentados todos os procedimentos necessários ao sucesso do empreendimento, é a partir dele que serão feitas as análises de resultados e as avaliações de progresso, seja na formação profissional do jovem (a sua habilitação técnica), seja no alcance e realização das metas e dos objetivos a que ele se destina (produção e comercialização). Assumindo como ferramenta de gestão, o PPJ irá exigir do jovem: atualização do inventário da propriedade; análise constante de mercado (novas perspectivas de venda, novos mercados, formas de apresentação do seu produto, etc.); controle de estoque, de produção e/ou de venda; controle de entrada e saída de recursos; etc. Para o manejo da experiência, há de se considerar aquelas que primem pela melhor qualidade do produto, sua conservação e logística de escoamento até o mercado final.
Como já mencionado anteriormente, o PPJ deverá atender tanto a produção de alimentos quanto a geração de renda para suprir as necessidades do jovem e sua família. A manutenção do PPJ na propriedade dependerá da sua disponibilidade de tempo (e de sua família), dos seus conhecimentos técnicos para o manejo e dos mercados com os quais irá trabalhar. Em meio a tudo isso, há necessidade de investimentos financeiros, sejam eles próprios do jovem ou da família, sejam eles oriundos de financiamentos e/ou de patrocínio. Planejar a captação e a utilização dos recursos financeiros é importante para garantir a continuidade do empreendimento e, principalmente, para garantir o retorno econômico para a família.
Todo esse trabalho é tarefa da administração que, no caso específico do Projeto Profissional é uma responsabilidade do próprio jovem e de sua família. A função de gestão, desempenhada pelo jovem, é iniciada com a elaboração do projeto e se segue com a implementação das ações. Dominar técnicas de gestão de empreendimentos produtivos é importante para que o jovem e sua família realizem todas as etapas do processo de produção, beneficiamento e comercialização de seus produtos. Técnicas de controle de qualidade, controle de produção, estoque e comercialização devem ser definidas para o sucesso do empreendimento. Quais os instrumentos que podem ser utilizados para isso? – Inicialmente, o caderno da realidade. Nele se fará todo o registro da implantação do empreendimento e suas etapas consecutivas. Para as demais etapas, um livro de controle de produção, estoque e comercialização, de entradas e saídas já é um passo significativo no processo de gestão.
Realizar o PPJ, para o jovem e sua família, é um desafio. Primeiro, pelo fato de propor uma nova rotina para a vida do jovem e sua família, com a definição do empreendimento e com o detalhamento do seu processo de implantação com a elaboração do projeto. Segundo, a instalação das unidades produtivas ou das experiências de geração de renda exigirão tempo organizado, disponibilidade de recursos e mão de obra, conhecimentos técnicos, habilidades e expertises[2] frente ao mercado, frente aos concorrentes. Aqui o desafio posto é que o jovem se torne empreendedor.
No caso específico da CFR, esse processo de estruturação do PPJ e sua implementação são contados como carga horária de estágio, já que o jovem está sendo capacitado para duas áreas importantes: a elaboração de projetos produtivos e a implementação de uma experiência produtiva que carece de intervenção técnica, de pesquisa, de aplicação de conhecimentos. Para o registro e acompanhamento dessa carga horária, o jovem utiliza o seu caderno da realidade – onde fará as anotações dos procedimentos utilizados no manejo do empreendimento, as dificuldades, os problemas surgidos, a necessidade da orientação técnica ou os avanços e os resultados que vão sendo alcançados periodicamente. Deve-se registrar o tempo utilizado nessas ações. Outra forma de registro se dá através dos relatórios das visitas técnicas e/ou da intervenção técnica direcionada ao empreendimento. Aqui se terá a colaboração dos monitores e, principalmente, a validação por parte de um técnico que domine os conhecimentos sobre aquela experiência.




[1] Pedagogo, especialista em gestão escolar – Diretor da CFR-LG e coordenador de projetos no Centro de Apoio a Projetos de Ação Comunitária – CEAPAC.
[2] Capacidade de iniciativa, conhecimentos técnicos e habilidades na área de empreendimentos, mercado, marketing. Conjunto de habilidades que permite competir com outros fornecedores no mercado, inovando e ganhando a simpatia dos consumidores. Saber encontrar brechas, oportunidades.